quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Contos

Inoportunamente minha amiga

Acabara de chegar do trabalho, mal havia entrado em casa a campainha soou. Devia ser ela novamente, pois todo dia era assim, não me deixava em paz.
Abri a porta e antes que eu pronunciasse qualquer palavra havia entrado e sentado-se em meu sofá espaçosamente.
_Como foi hoje o trabalho, Luzia? _perguntou-me sorridente.
_Bem e diferente do seu trabalho, que acho que nem existe. _respondi séria.
_Meu trabalho é o prazer. Pode aprender comigo, se quiser. É bastante fácil: tenho meus muitos namorados que me pagam tudo e ainda pagam minhas contas. Não é maravilhoso?
_Não mesmo.
_Vai acabar uma solteirona ranzinza, Luzia. _debochou ela de mim.
Embora a vida dela fosse enganar aos homens para que arcassem com suas despesas, acredito ser sua maior diversão importunar-me. E fazia isso todos os santos dias. Eu nem sabia mais o que era ficar sozinha em paz. Em paz!
_Hoje vi aquele que você acha bonito. Podia sair com ele depois. Na verdade é dele que menos gosto. _disse olhando para cima parecendo pensar. _E você, querida, nunca sairá com homem nenhum? Acho que não foi uma boa idéia sugerir meu namorado emprestado, pois é bem capaz que não queira devolver-me ele.
_Não quero emprestado um homem. Muito menos esses que você faz de bobo. E solteirona é você quem acabará ficando. _respondi com meu habitual mau - humor. _Vou preparar meu lanche, pois tinha acabado de chegar em casa quando você chamou-me.
_Não quer um homem emprestado, quer dado, não é, danadinha? Traga para o lanche fritas e refrigerante, por favor. _disse estendendo os pés sobre meu sofá.
_Não sou como seus homens que fazem o que você quer. Esse pedido deve ser encontrado no boteco da esquina. Vai lá.
Entrei na cozinha, preparei meu chá com torradas e voltei para a sala. Aquela agradabilíssima companhia estava babando em meu sofá, dormindo. Liguei a televisão e lanchei.
Estava assistindo à novela em uma cadeira atrás do sofá, pois este estava bastante ocupado. Na última cena, naqueles momentos que paramos de mastigar para que o barulho não atrapalhe ouvirmos as personagens e chegamos mais para frente para vermos melhor, ela resolve acordar-se e põe-se exatamente entre mim e a televisão, não deixando, portanto, que eu veja a cena final e nem a ouça, pois resolve dizer-me que está de saída.
Que vontade de matá-la! Que pessoa chata! Todo dia a mesma historia.
Levantou-se e foi em direção à porta despedindo-se de mim. Embora tivesse atrapalhado minha novela, ao menos iria finalmente para sua casa.
Passados uns cinco minutos que saíra, quando comecei a ler um livro, caiu uma chuva, senão uma tempestade. A maldita campainha soa novamente e, abrindo, vejo aquela adorável pessoa encharcada de água dizendo não ter como ir para casa naquela chuva.
_Luzia, você terá que preparar uma caminha para mim dormir aqui. _disse com aquele famoso olhar de cachorro abandonado.
Enquanto ela tomava um banho e vestia um de meus pijamas, preparei o sofá para que ela passasse a noite nele.
Nessa hora era tarde, talvez mais de meia-noite, e no dia seguinte eu precisava acordar cedo para novamente trabalhar. Fomos, portanto, dormir.
Deixei-a ali na sala deitada no sofá e fui para meu quarto deitar em minha confortável cama, quando a vejo chegar com o travesseiro.
_Que é isso? _perguntei.
_É desconfortável o sofá. Vou dormir contigo, senão amanheço com dor nas costas.
Deitou-se ao meu lado espremendo-me contra a parede. Colocou o travesseiro sob a cabeça e , não tardou, roncava atrapalhando-me dormir.
Naquela noite tive insônia e descobri que ela dormia muito bem, entre roncos. E a noite em claro passei vendo-a dormir.

Ana Carolina Leão

8 comentários:

  1. Talentosíssima, fico bastante interessante , chega a ser engraçado,no começo agente imagina uma coisa, mas ao final vc se depara com uma situação que apesar de não a esperar, ela aconteçe!Meus parabens Aninha! tremendo talento.

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  2. Imagina... Mas obrigada, Renato!
    Que bom que está apreciando os textos!

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  3. Me diverti agora lendo esse texto!
    Ele é engraçado !
    Parabéns Ana !

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  4. Verdade, esse é um texto mais divertido.
    Obrigada, Cris!

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  5. muito lindo minha linda
    esta de parabens
    eu pensei que Luzia fosse mais energica. mas entendo as vezes na vida encontramos com umas "malas2 assim mesmo.
    felicidades seu conto esta lindo
    beijos

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  6. Obrigada, Marcos!
    Que bom que você está seguindo minhas postagens.
    Beijos!

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